PF tem evidências da participação de Bolsonaro em planos golpistas

Investigações mostram que Bolsonaro tem participação na trama para Golpe de Estado no Brasil (Foto: Reprodução)

A trama golpista para assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que veio à tona após a prisão de militares de elite do Exército brasileiro, foi o estopim de uma série de ações orquestradas há alguns anos para provocar o caos e tomar ilegalmente o poder no País. A Polícia Federal (PF) já tem evidências da participação do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro no plano antidemocrático.

O ex-presidente teria dado o aval para um golpe de Estado até o dia 31 de dezembro de 2022. A informação consta no relatório da Polícia Federal (PF) que detalha o plano dos militares.

A relação entre Bolsonaro e os militares presos ficou mais evidente não só no documento apresentado pela PF, mas, também, na manifestação da Procuradoria Geral da República (PGR) a favor das prisões, entendimento que demonstra o quão o ex-presidente está ciente da gravidade desse vínculo.

Além da existência do grupo “Kids Pretos”, formado pelos militares especializados em Operações Especiais e revelado após a operação desta terça-feira (19/11), o plano golpista de Bolsonaro teve inúmeras ações, realizadas desde 2022 até agora, com o propósito de destruir a democracia brasileira.

“Essa tentativa de golpe foi a culminação de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para gerar descrédito na democracia para benefício próprio”, destacou o cientista político Luiz Carlos Marques.

Veja alguns passos dos golpistas para tomarem o poder:

  • O sistema eleitoral brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua integridade, foi posto em dúvida por quem se elegeu por esse mesmo sistema. Bolsonaro questionou o modelo diversas vezes, antes e depois de sair do poder. Ele afirmou que venceu no primeiro turno as eleições presidenciais de 2018 e que teria provas disso, mas nunca as apresentou. Também indicou – sem apresentar provas -, que existiriam supostas “fragilidades” no sistema e fez com que os bolsonaristas compartilhassem essa informação.
  • Bolsonaro pregava a desobediência às decisões do STF. O ex-presidente fez ofensas a Moraes, Barroso, Fachin e Fux durante sua gestão, de 2019 a 2022; sendo a urna eletrônica o principal motivo dos conflitos. As falas do ex-presidente foram levadas à Justiça e causaram consequências para a carreira política dele. Em 30 de junho de 2023, o TSE determinou a inelegibilidade de Bolsonaro por 8 anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
  • Dois dias após o ataque contra as sedes dos Três Poderes, já como ex-chefe de Estado, Bolsonaro compartilhou vídeo nas redes sociais questionando o resultado das eleições presidenciais de 2022.
  • Insatisfeitos com a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva, bolsonaristas queriam mudar o resultado das eleições gerais de 2022 espalhando o caos no país. Eles chegaram a montar vários acampamentos em todo o país, inclusive na frente de quartéis militares para pedir o golpe.
  • Na véspera de Natal de 2022, dias antes de Lula tomar posse como novo presidente, os golpistas ameaçaram explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília. A informação era que uma bomba havia sido acoplada a um caminhão-tanque, abastecido com 60 mil litros de querosene de aviação, que ia entrar na área do terminal. Seria uma tragédia se o detonador não tivesse falhado.
  • O conluio entre militares da ativa e membros da equipe de Bolsonaro dando suporte material e financeiro para as manifestações é, para a PF, parte da estratégia para “garantir uma falsa sensação de apoio popular à tentativa de golpe”.
  • Bolsonaro não passou a faixa presidencial ao Lula no momento da posse e foi aos Estados Unidos. O relatório da PF comprovou também que Bolsonaro transferiu R$ 800 mil de sua conta no Brasil para uma conta no exterior, o que foi visto como uma tentativa de se manter nos Estados Unidos até o êxito da tentativa de golpe.
  • Em 8 de janeiro de 2023, grupos extremistas invadiram as sedes dos três Poderes da República. Impulsionados por mentiras e desinformação, quebraram janelas, destruíram objetos históricos e obras de arte, enquanto transmitiam seus atos pela internet.
  • Francisco Wanderley Luiz, conhecido como “Tiu França”, fanático extremista de direita, foi o autor das explosões contra o STF, no último dia 13 de novembro. Uma hora antes do ataque, ele fez uma publicação nas redes sociais com ataques ao Supremo, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos presidentes das duas Casas do Congresso Nacional. Em seu perfil no Facebook, Francisco reproduzia teorias conspiratórias anticomunistas e tinha como alvo principal o ministro Alexandre de Moraes.

“Toda essa cronologia não só revela a tentativa do núcleo do ex-presidente de manter a militância organizada para questionar o resultado das urnas, mas também é indício de que integrantes das Forças Especiais do Exército teriam orientado a atuação de manifestantes em 15 de novembro de 2022. Cada ponto desse mostra que as ações de Bolsonaro e sua turma foram orquestradas com o objetivo de disseminar o ódio e fazer com que a população que apoia o bolsonarismo participasse ativamente de ataques golpistas, como o que aconteceu em 8 de janeiro”, destacou Luiz Carlos.

Ministro do STF alertou para gravidade da situação

Após a explosão das bombas em Brasília, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, reforçou a necessidade de responsabilização de todos que atentem contra a democracia.

“A gravidade dessa série de ataques, orquestrados com autoridades e o alto escalão das Forças Armadas, é um alerta para a realidade de que persiste no Brasil a ideia de deslegitimar a democracia e suas instituições, inspirada pela intolerância, pela violência e pela desinformação”, disse o cientista político.

Pedidos de punição

O Partido dos Trabalhadores (PT) emitiu uma nota pública, na terça-feira (19/11), para pedir punição dos envolvidos e a fiscalização contra os extremistas para evitar novos ataques à democracia.

“Enquanto permanecerem impunes, seguirão ameaçando a democracia e a paz no Brasil. Enquanto tentarem falsear a realidade e fugir à Justiça, com a cumplicidade ativa de parlamentares e até governadores de seu espectro ideológico extremista, articulando um projeto imoral de anistia no Congresso, o país estará sujeito a atos terroristas como o que aconteceu há menos de uma semana em Brasília. É a impunidade dos chefes, a desfaçatez com que se apresentam em público, nas redes sociais e até na mídia, o mais potente incentivo à ação criminosa de indivíduos ou grupos extremistas espalhados pelo país”, diz trechos da nota.

VEJA A CARTA DO PT ABAIXO:

As estarrecedoras conclusões do inquérito da Polícia Federal sobre os planos de militares para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes apontam diretamente para o Palácio do Planalto comandado por Jair Bolsonaro, o maior interessado na conspiração golpista para impedir a posse do eleito e instaurar sua ditadura.

Os terroristas fardados discutiram seus planos na residência do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa que perdeu as eleições. O chefe da operação de assassinato era o general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência. E o ex-chefe do GSI, general Augusto Heleno, seria o coordenador de uma junta militar para impor a repressão e garantir a ditadura de Bolsonaro.

As prisões desta manhã, determinadas pelo ministro Moraes com o respaldo do procurador-geral da República, são um passo importantíssimo para a responsabilização dos arquitetos do 8 de janeiro. A contenção do golpismo e do terrorismo da extrema direita, no entanto, exige que todos os envolvidos sejam processados e punidos pedagogicamente, a começar pelo chefe e seus cúmplices mais poderosos, civis e militares.

Enquanto permanecerem impunes, seguirão ameaçando a democracia e a paz no Brasil. Enquanto tentarem falsear a realidade e fugir à Justiça, com a cumplicidade ativa de parlamentares e até governadores de seu espectro ideológico extremista, articulando um projeto imoral de anistia no Congresso, o país estará sujeito a atos terroristas como o que aconteceu há menos de uma semana em Brasília.

É a impunidade dos chefes, a desfaçatez com que se apresentam em público, nas redes sociais e até na mídia, o mais potente incentivo à ação criminosa de indivíduos ou grupos extremistas espalhados pelo país.

Não existe, por definição, bolsonarista moderado nem democrata de extrema direita. As novas conclusões do inquérito expõem cruamente seu modo de agir, que despreza a vida humana, as instituições e o Estado de Direito, em nome de um projeto autoritário de poder.

Esta é a verdadeira e única face de Jair Bolsonaro e seus cúmplices, não a que ele tenta impingir com seus apelos hipócritas à pacificação, porque são eles os comandantes da guerra, do ódio e da violência política.

A democracia precisa contê-los para não sucumbir, o que requer, para além da ação da Justiça, uma vigilância efetiva e legalmente constituída sobre as ações da extrema direita golpista nas redes sociais e em grupos organizados de orientação fascista e antidemocrática.

Punição para todos os envolvidos na trama golpista e nos planos de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes!