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Os esforços das forças de segurança pública do Amazonas para combater o tráfico ilícito de drogas no Estado parecem que não tem intimidado as facções criminosas da região que, na noite da segunda-feira (10/02), afrontaram o Poder Público e promoveram foguetórios para comemorar o fracasso das forças policiais no extermínio desse poder paralelo apesar de todo aparato repressivo.
Moradores de diversos bairros da capital amazonense e até da Região Metropolitana de Manaus (RMM) relataram barulhos intensos de fogos de artifício. A queima de fogos, segundo informações que circularam nas redes sociais, seria uma celebração pelos cinco anos de atuação da facção criminosa Comando Vermelho (CV) no Amazonas.
Uma mensagem atribuída à organização foi divulgada nas redes sociais para convocar membros e simpatizantes para a ação, ainda na tarde de ontem. “Hoje, às 20h, juntos, iremos estremecer o Amazonas com a maior queima de fogos já vista em todo o Estado, em forma comemorativa à ‘nossa honrosa’ organização CV-RL-A”.
Após o anúncio, as forças policiais foram para as ruas e conseguiram prender mais de 50 pessoas suspeitas de envolvimento no foguetório. A queima de fogos aconteceu em bairros como Alvorada, Compensa, Japiim, Cidade de Deus, Petrópolis, Colônia Antônio Aleixo e, até mesmo, no município de Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus).
Foram presas 25 pessoas na capital e 26 no interior, além de quatro adolescentes apreendidos junto com drogas, arma de fogo e quase mil caixas de foguete usadas para fazer apologia ao crime.
Originado no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho (CV) ganhou força no Amazonas nos últimos anos, consolidando sua presença no tráfico de drogas tanto na capital quanto no interior do Estado. A facção tem protagonizado disputas violentas pelo domínio do comércio ilegal de entorpecentes, rivalizando com outros grupos criminosos que atuam na região.
A facção promove queima de fogos, seja para comemorar ou para dar adeus a algum integrante morto “na guerra”, como os membros denominam o dia a dia na atividade ilícita.
Para uma parte da população, os foguetórios nada mais são do que uma revelação da incompetência do Estado em combater a criminalidade. “A bronca é do Governo do Amazonas que não faz nada”, declarou a internauta Hellen Gil em postagem sobre o foguetório.
“Wilson Lima vai deixar mesmo fazer a festa na cidade de Manaus? Não vai pedir para a polícia mostrar a cara. Sem futuro”, questionou outra.
O fortalecimento da estratégia de guerra às drogas se acentuou de forma profunda durante o governo de Wilson Lima, segundo alega o secretário de Segurança Pública, Coronel Vinicius Almeida, ao se pronunciar sobre o foguetório da segunda-feira (10/02).
“A gente consegue entender muito a indignação da sociedade. Nós, também, nos sentimos indignados, mas eu quero trazer uma reflexão. Ano passado, o sistema de segurança pública retirou das ruas, historicamente, mais de 43 toneladas de drogas. No ano anterior, o recorde tinha sido 26 toneladas, ou seja, nós quase dobramos. O Estado do Amazonas representou sozinho, no ano passado, mais de 70% da apreensão de drogas de todos os Estados somados da Região Norte. Então o trabalho do sistema é muito bem feito, isso é fruto da Polícia Militar e da Polícia Civil que têm ido para rua e feito esse combate”.
O Amazonas bateu recorde histórico na apreensão de drogas em 2024. De janeiro a dezembro, foram mais de 43,2 toneladas de entorpecentes retiradas das mãos de criminosos em todo o Estado. A maconha corresponde por 65% das apreensões de drogas. Ao todo, foram apreendidas 28,1 toneladas da droga. A cocaína corresponde aos 35% restantes, o equivalente a 15 toneladas de material ilícito.
Conforme os dados do Centro Integrado de Estatística de Segurança Pública (Ciesp) da SSP-AM, em comparação com as apreensões em nível nacional, o Amazonas apresentou crescimento de 5,3%, e entre os estados da Região Norte, o percentual aumentou para cerca de 39%. Em relação ao ano de 2023, o volume de apreensões alcançado em 2024, é cerca de 60% maior.
O próprio secretário de Segurança Pública fez uma reflexão sobre a audácia dos criminosos em afrontarem o Estado com os foguetórios e criticou o Poder Judiciário, que se baseia, segundo ele, em uma “Legislação frouxa”.
“A gente se pergunta do porquê de uma queima de fogos como essa. Então aqui trago à sociedade uma reflexão. Será que é normal isso apesar das prisões de traficantes e do número elevado de apreensões? Será que é normal termos grandes lideranças do tráfico sendo presas apesar de serem presas quatro, cinco ou seis vezes? Será que a nossa Legislação realmente reflete o que realmente o povo precisa? Por que nós como profissionais nos sentimos tão indignados quanto a sociedade amazonense. Por que não é fácil o nosso profissional sair de casa todo dia para defender o nosso povo, levar tiro e quase ir à morte, como aconteceu na semana passada, e quando chega no Judiciário e, por força da Legislação, solta. Uma Legislação frouxa, permissiva. Nós vivemos num país onde a Legislação permite que seja feita uma queima de fogos seja feita na capital afrontando a Democracia e essa conta chega para nós, do sistema de segurança, como se fossemos os únicos responsáveis por solucionar uma demanda – que é uma demanda do País”, criticou Almeida.
Segundo o cientista político Helso Ribeiro do Carmo, as organizações criminosas em todo o país tentam afrontar o Estado. Para ele, é necessário obter junto com os Estados e coordenação da Polícia Federal (PF) a identificação das lideranças das facções, os territórios que ocupam, como recebem insumos do crime, como drogas e armas por meio de investimentos em operações de inteligência.
“O foguetório é uma demonstração de que eles existem e mandam a mensagem de que: ‘podem vir porque estamos aqui’. É uma afronta ao Estado e, evidentemente, a gente espera que o Estado responda por meio da inteligência e atos concretos. Eu penso que o aparato policial precisa ser mais prestigiado, já que eu não o vejo com grande prestígio: a começar pelos salários, já que eles se expõem e arriscam as próprias vidas. O número de policiais assassinados no Brasil é imenso, assim como o número de policiais que se suicidam. Então nós temos a polícia que mais mata e a que mais morre. Algo está estranho nessa conta! O Estado precisa investir muito em inteligência para que as prisões fossem feitas com pouca possibilidade de liberdade posteriormente”, avaliou.
Ele ainda destacou que a declaração de Vinicius Almeida sobre a debilidade das leis brasileiras demonstra a experiência pessoal do secretário no dia a dia de combate ao crime organizado
“Eu compreendo a declaração do secretário porque ele vem do corpo policial, então, ele já viu dezenas de colegas caírem no campo de batalha contra o crime, e isso gera uma indignação. Eu entendo que a legislação brasileira não é tão permissiva do que outros estados democráticos. Tem uns que são mais severos. Nós podemos pegar os 40 países com melhor IDH e veremos que a nossa legislação não é frouxa. O que falta é municiar a polícia de inteligência, bons salários e uma boa seleção. A partir daí veremos bons resultados e esses resultados não são imediatos como a população necessita. Eles são a médio e longo prazo”, afirmou Helso Ribeiro.