Líbano se prepara para o funeral do Sayed Hassan Nasrallah, ícone mundial da resistência árabe

Mais de 1 milhão de pessoas, inclusive delegações estrangeiras, são esperadas para o enterro oficial de um dos maiores líderes revolucionários da atualidade
Sayed Hassan Nasrallah e Sayed Hashem Safi Al-Din se tornaram mártires na luta pela defesa dos direitos dos povos árabes, particularmente, os da Palestina e do Líbano (Foto: Divulgação)

Mais de 1 milhão de pessoas de dentro e fora do Líbano são esperadas para participarem, neste domingo (23/02), em Beirute, do funeral oficial do Sayed Hassan Nasrallah – o ex-secretário-geral do Hezbollah, que se tornou um ícone internacional da resistência árabe contra o imperialismo mundial liderado pelos Estados Unidos e a ocupação israelense em terras palestinas e libanesas. O enterro ocorrerá quase cinco meses após o líder revolucionário libanês ter sido martirizado em um ataque coordenado entre Israel e os norte-americanos, ocorrido em 27 de setembro de 2024, contra o prédio que Nasrallah se encontrava no bairro de Haret Hreik, nos subúrbios ao sul da capital libanesa.

Outros comandantes do Hezbollah, também, foram assassinados na mesma ação após o lançamento de mais de 85 toneladas de explosivos sobre o local da reunião.

O funeral de Nasrallah começará com uma cerimônia pública que terá início por volta das 13h do horário local da capital libanesa (8h em Brasília) e será realizada na maior arena esportiva do Líbano – o Estádio Camille Chamoun Sports City -, situado nos arredores dos subúrbios ao sul de Beirute, área conhecida por ser a base de apoio do Hezbollah, um dos maiores partidos libaneses.

O evento está previsto para durar 65 minutos e contará com um discurso do atual secretário-geral do Hezbollah, sheikh Naim Qassem, antes do corpo ser levado, em desfile público e popular, para um mausoléu construído, em Beirute, especialmente para abrigar os restos mortais de Nasrallah, que estava enterrado provisoriamente em um cemitério da capital libanesa, ao lado do túmulo de seu filho, Hadi, que morreu lutando contra Israel em 1997, no sul do Líbano.

Mausoléu foi erguido em Beirute para abrigar o corpo do líder do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah (Foto: Divulgação)

Funeral de Estado

Segundo o vice-presidente do Conselho Executivo do Hezbollah, sheikh Ali Damoush, o funeral de Nasrallah deverá ser o mesmo dado a chefes de Estado, ressaltando que será uma cerimônia “excepcional” e “inclusiva”.

“Amanhã é o dia da lealdade, fidelidade e aliança com os mártires, e nossa presença em seu funeral é uma forma de lealdade a eles”, enfatizou Damoush.

Além de Nasrallah, o Líbano realizará, também, o enterro do Sayed Hashem Safi Al-Din, assassinado por Israel uma semana depois de Nasrallah, e considerado, até então, como o sucessor natural do líder libanês. Safi Al-Din será enterrado em sua cidade natal Deir Qanun Al-Nahr, no sul do Líbano.

“Levantem-se de cada casa, vila e cidade para dizer ao inimigo e amigo que nossa resistência permanece e está presente no campo e o inimigo sionista não será capaz de esmagá-la”, acrescentou Damoush.

Damoush enfatizou, ainda, que “o martírio dos dois queridos cavalheiros não é surpreendente, pois a resistência fez muitos sacrifícios em seu caminho, como os martírios do sheikh Ragheb Harb e do Sayed Abbas Al-Moussawi, e estamos em uma batalha justa contra os ataques do inimigo”, acrescentando que “os mártires são parte desta batalha, e seu martírio não é o fim, mas sim parte do nosso caminho natural”.

O sheikh afirmou, também, que “o martírio de qualquer líder ou combatente é algo natural na batalha de resistência, enfatizando que a morte de Nasrallah “não desencorajará nossa determinação nem enfraquecerá nossa vontade, mas, pelo contrário, aumentará nossa determinação de alcançar as esperanças dos mártires e continuar em seu caminho”.

Delegações de todo o mundo começam a chegar no Líbano

Delegações todo o mundo chegam ao Líbano para o funeral do Sayed Hassan Nasrallah (Foto: Divulgação)

Os funerais do Sayed Hassan Nasrallah e do Sayed Hashem Safi Al-Din atrairão uma multidão de dentro e fora do Líbano. Delegações estrangeiras de mais de 80 países deverão participar da cerimônia de despedida dos dois líderes revolucionários libaneses.

As maiores comitivas virão do Irã, do Iraque e do Iêmen, países aliados do Hezbollah. O evento deverá contar com a presença do ministro de Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, e do presidente do parlamento do país, Mohammed Bagher Ghalibaf. O grupo Ansar Allah, ou houthis, também enviará uma delegação de alto escalão, liderada pelo Grão-Mufti do Iêmen, Shams al-Din Sharaf Al-Din.

Nasrallah, visto como uma das mais eminentes personalidades árabes de sua geração, chefiou o Hezbollah por 32 anos em meio a sucessivos conflitos com Israel, ao elevá-lo a uma força política e militar de ampla influência regional.

Foi sob o comando de Nasrallah que o regime israelense conheceu sua primeira derrota militar, em maio de 2000, quando Israel foi obrigado a retirar suas tropas invasoras do Líbano, em função da forte luta feita pelos combatentes da Resistência Islâmica, braço armado do Hezbollah.

Nova fase após o cessar-fogo

Hezbollah deverá mostrar força durante enterro de Nasrallah (Foto: Divulgação)

O funeral do ex-líder do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, coincide com o fim do período estendido para a implementação do cessar-fogo em 18 de fevereiro – o prazo inicial era o último dia 26 de janeiro -, que encerrou quase 14 meses de conflitos pesados entre os agressores israelenses e os combatentes da resistência libanesa. Para analistas internacionais, a cerimônia deverá marcar o início de uma nova fase, onde o Hezbollah tentará mostrar força ao enfatizar que continuará a fazer a resistência contra a ocupação israelense.

“Um funeral grandioso, que atraía centenas de milhares de pessoas, é uma forma de dizer a todos que o Hezbollah ainda está ativo, que ainda é o principal representante da comunidade xiita no Líbano”, afirmou às agências internacionais de notícias, Mohamad Hage Ali, analista do Centro Carnegie para o Oriente Médio, ao acrescentar que “o funeral é uma plataforma de lançamento para a próxima fase”.

Já o clérigo muçulmano Sadeq al-Nabulsi, que é próximo do Hezbollah, reiterou que adversários no Líbano e no exteriores cogitaram a derrota do grupo, mas que o funeral de Estado deve emitir uma mensagem oposta, como “prova de sua permanência”.

Balanço provisório de baixas da guerra

Ataques de Israel atingiram áreas civis no Líbano de forma intencional (Foto: Divulgação)

O Líbano e Israel vivenciaram 13 meses de disparos transfronteiriços, incluindo dois meses de guerra aberta com invasão israelense por terra e bombardeios ininterruptos. Um cessar-fogo foi assinado em 27 de novembro de 2024 pelos dois lados.

Estima-se que os bombardeios israelenses causaram a destruição de mais de 200 mil casas em todo o território libanês, principalmente, a partir do dia 23 de setembro de 2024, quando Israel lançou uma agressão em larga escala contra alvos civis libaneses sob o pretexto de atacar o Hezbollah, que entrou na guerra para apoiar o povo palestino.

A escalada coincidiu com o genocídio israelense na Faixa de Gaza, que deixou ao menos 48 mil mortos e 2 milhões de desabrigados, entre outubro de 2023 e janeiro de 2025, na esteira do ataque de 7 de outubro de 2023, realizado pelos combatentes palestinos.

Estima-se que mais de 4 mil pessoas foram mortas no Líbano, incluindo dezenas de mulheres, idosos e crianças, desde o início das hostilidades em outubro de 2023, segundo o Ministério da Saúde do país.

Em Israel, o balanço é de 134 mortos – entre militares e civis -, incluindo outros 56 soldados que morreram no sul do Líbano durante a invasão terrestre, segundo uma contagem da Agence France-Presse (AFP) baseada em dados oficiais. Por conta da censura, as autoridades israelenses não divulgam o número real de baixas de Israel.