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Após mais de dois meses sem obter nenhuma conquista militar apesar de mobilizar quase 70 mil soldados para invadir o Líbano e promover massivos bombardeios em todo o território libanês nos últimos 71 dias, Israel aceitou, nesta terça-feira (26/11), um acordo de cessar-fogo com o Hezbollah. A trégua, que inicialmente será de 60 dias, deverá entrar em vigor a partir das 4h da madrugada em Beirute (23h no horário de Brasília) desta quarta-feira (27/11).
O acordo de cessar-fogo foi confirmado em discurso feito na Casa Branca, nesta terça-feira (26/11), pelo presidente do Estados Unidos, Joe Biden, logo após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter anunciado que o gabinete de segurança do regime sionista havia aceitado a trégua de dois meses. Em seu anúncio, Netanyahu tentou aparentar uma possível “vitória” na guerra, apesar de não ter alcançado nenhum de seus principais objetivos, entre eles, o de “acabar com o Hezbollah”, grupo libanês que lançou pesados ataques com mísseis e drones contra alvos israelenses.
“A duração do cessar-fogo depende do que acontecer no Líbano”, disse Netanyahu ao declarar que a trégua no Líbano permitirá que Israel se concentre no que chamou de “ameaça iraniana”.
Líbano pede implementação imediata da trégua
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, pediu, nesta terça-feira (26/11), a “implementação imediata” do cessar-fogo. Ele afirmou que recebeu um telefonema do presidente norte-americano Joe Biden e, na ocasião, reafirmou o apoio à trégua no Líbano, classificando o acordo como “um passo essencial para espalhar a calma e a estabilidade no país”.
Hezbollah
Responsável por fazer a resistência que combate à invasão israelense no Líbano, o Hezbollah ainda não se manifestou oficialmente sobre o cessar-fogo.
Porém um de seus representantes no Parlamento Libanês, o deputado Hassan Fadlallah, afirmou durante entrevista, nesta terça-feira (26/11), para a emissora Al-Mayadeen, que Israel “foi incapaz de impor as suas condições políticas e militares à resistência”.
“Estamos passando por uma noite perigosa e delicada, mas a ocupação não terá vantagem. Não estamos a falar de exageros, mas sim de pessoas firmes que forçaram o inimigo israelense a chegar a um cessar-fogo”, pontuou o parlamentar.
Quanto às batalhas na fronteira, Fadlallah destacou que todos os objetivos militares israelenses “caíram às portas de Khiam, Kafr Kila e outras aldeias libanesas”, sublinhando que o “exército de ocupação”, apesar de toda a tecnologia que possui, não conseguiu parar as operações de resistência a sul do rio Litani, de tal forma que estão concentrados até hoje em instalações militares israelenses, e suas operações são realizadas a partir dessa área”.
Segundo o deputado do Hezbollah, os combatentes da resistência estão perto de alcançar uma conquista histórica para o Líbano e a região. “Não estamos em 1948 ou 1967. O nosso papel principal, como libaneses patrióticos, é permanecer firme e impedir que o inimigo alcance os seus objetivos”, disse Fadlallah ao ressaltar que, no dia seguinte à guerra, “o povo do sul, do Bekaa, dos subúrbios (de Beirute) e todos os cidadãos honrados levantarão a bandeira da resistência e libertação”.
Acordo
O acordo de cessar-fogo no Líbano tem como base a resolução 1701, do Conselho de Segurança da ONU, que encerrou a guerra anterior entre Israel e o Hezbollah em 2006. O documento estipula que apenas o Exército libanês e as forças de paz podem ser posicionados na fronteira sul do Líbano.
Tanto os combatentes do Hezbollah como o Exército israelense devem se retirar do sul do Líbano para permitir que as tropas libanesas se desloquem para a zona de fronteira. O plano de cessar-fogo inclui a criação de um comitê internacional para supervisionar sua implementação. Veja os principais pontos do cessar-fogo:
Faixa de Gaza
Em relação à Faixa de Gaza, Joe Biden falou em seu discurso que os Estados Unidos irão empreender “novos esforços” com o Egito, Qatar, Turquia e Israel em busca de um cessar-fogo no território palestino.
Mais cedo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que as negociações sobre o cessar-fogo no Líbano ajudaria a pôr fim ao conflito na Faixa de Gaza, onde Israel já assassinou mais de 44,2 mil pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde local, considerados confiáveis pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A guerra eclodiu após o ataque sem precedentes lançado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que matou, segundo dados do regime sionista, quase 1,2 mil pessoas, e resultou na captura de mais de 200 israelenses, a maioria deles militares que participavam das agressões contra a Faixa de Gaza antes do ataque dos combatentes palestinos.
A população do Líbano viveu um verdadeiro dia de terror, nesta terça-feira (26/11), com Israel realizando dezenas de bombardeios aéreos em todo o território libanês, incluindo áreas civis em zonas centrais de Beirute, às vésperas de um anúncio de cessar-fogo.
No início da tarde, o ataques terroristas israelenses deixaram sete pessoas mortas e 37 feridas no bairro de Noueiri, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. O mesmo bairro popular, que fica perto da sede do primeiro-ministro, já tinha sido alvo de dois outros dois ataques anteriores, um deles na madrugada do último sábado (23/11). Uma área próxima a Noueiri, o bairro de Barbour, também foi alvo de outra agressão, que deixou três pessoas mortas e dez feridas.
Ao mesmo tempo, os subúrbios ao sul de Beirute foram alvo de bombardeios pesados. Além de Beirute, as principais cidades do Sul – como Sidon, Nabatieh e Tiro, entre outras -, e do Leste – como Baalbeck e Hermel -, sofreram pesados bombardeios nesta terça-feira (26/11), que deixaram dezenas de mortos e feridos entre a população civil do Líbano. No norte do país, ataques de Israel deixaram vários militares do Exército libanês mortos e feridos.
O deputado do Hezbollah, Amin Sherri, que teve familiares assassinados no ataque israelense em Barbour, acusou Israel de querer “se vingar dos libaneses” justamente antes de uma possível trégua.
Histórico
Desde o dia 8 de outubro de 2023, um dia após o ataque do Hamas, o Hezbollah e Israel começaram a se enfrentar na região da fronteira. Até então os confrontos se restringiam à zona fronteiriça com raras exceções, quando os militares israelenses violavam as regras e atacavam cidades libanesas em áreas mais afastadas com o intuito de pressionar o Líbano.
Em 17 de setembro, em um verdadeiro ato terrorista para mudar as “regras do jogo”, Israel detonou pagers (bipes) numa tentativa de assassinato em massa de ao menos 5 mil pessoas. Porém, nem todos os aparelhos explodiram e a ação terrorista israelense deixou quase 3 mil pessoas mortas ou feridas, a maioria delas civis, incluindo mulheres e crianças.
No dia seguinte as explosões dos pagers, Israel detonou walkie-talkies, que deixaram mais de 1 mil mortos e feridos. Após esses ataques terroristas, os agressões israelenses passaram, a partir do dia 23 de setembro, a atacar massivamente civis libaneses de forma direta e intencional, forçando o deslocamento de mais de 1,2 milhão de pessoas.
Dias depois, em 30 de setembro, Israel inicia uma invasão terrestre no Líbano, que resultou na morte e no ferimento de vários soldados israelenses. Israel alegou que o objetivo era neutralizar o Hezbollah no sul do Líbano para proteger sua fronteira e permitir o retorno de 60 mil residentes deslocados.
Por sua vez, o Hezbollah lançou milhares de mísseis e drones contra diversas áreas de Israel, principalmente bases militares, diferentemente do regime sionista israelense, que tomou os civis libaneses como alvos principais.
Segundo dados do Ministério da Saúde libanês, divulgados nesta terça-feira (26/11), as agressões israelenses já mataram quase 3,8 mil pessoas e deixaram 15.859 feridos no Líbano desde outubro de 2023. Do lado israelense, morreram 47 civis e 82 militares em 13 meses. Porém, esse número pode ser maior uma vez que Israel impõe censura sobre a quantidade real de baixas.