Chamado de ‘comunista’, favorito à prefeito de NY pode se consolidar como alternativa mais à esquerda contra Trump

Brasil de Fato – Nova-iorquinos vão eleger um novo prefeito, nesta terça-feira (04/11), tendo como favorito o muçulmano Zohran Mamdani (democrata), chamado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de “comunista”. Analistas afirmam que, se eleito, o político de 34 anos pode se consolidar como um dos principais opositores do mandatário magnata.

Nascido em Uganda e naturalizado estadunidense, ele lidera as pesquisas à frente do ex-governador Andrew Cuomo, acusado de agressão sexual e que disputa a eleição como candidato independente, após perder as primárias do partido. Em terceiro lugar nas pesquisas está o candidato do Partido Republicano Curtis Sliwa, de 71 anos, fundador do grupo de vigilantes Guardian Angels, um locutor prolífico e amante dos gatos.

A última pesquisa da Universidade Quinnipiac, realizada de 23 a 27 de outubro, atribui a Mamdani 43% da preferência do eleitorado, seguido por Cuomo, com 33%, e Sliwa, com 14%.

Trump se referiu a Mandani como comunista e, assim como fez antes das eleições legislativas argentinas, ameaçou financeiramente a cidade. “Vai ser difícil para mim, como presidente, destinar muito dinheiro a Nova York, porque se você tem um comunista governando Nova York, tudo o que você está fazendo é desperdiçar o dinheiro que está enviando para lá”.

“A eleição de Zohan Mandani é importante para ver o peso do Partido Democrata como parte da resistência ao governo de Trump”, disse ao Brasil de Fato o professor da Brown University James Green. Na semana passada, Trump postou um vídeo criado por inteligência artificial no qual pilota um jato que bombardeia manifestantes em Nova York com fezes

Apesar das Torres Gêmeas

O pesquisador estadunidense ressalta que Mandami “oferece uma solução progressista mais à esquerda para os problemas de Nova York. Se ganhar, vai ter conseguido aprovação de parte significativa da sociedade de Nova York entre eles a comunidade judaica, que é bastante grande, importante e que têm dúvidas sobre as suas posições políticas sobre o Oriente Médio e a Palestina”.

James Green disse à reportagem que Mandani deve se tornar “um alvo muito forte do ódio e da agressividade de Trump que vai tentar associar o Partido Democrata à ultra-esquerda. Mentiras para tentar dividir sua base”.

À AFP, Lincoln Mitchell, professor de política na Universidade de Columbia disse que “Mamdani é uma figura política incomum e realmente captura o espírito do momento. Este é o momento em que uma voz forte contra Trump na maior cidade dos Estados Unidos vai atrair muita atenção”.

“Francamente, um candidato muçulmano para prefeito de Nova York é uma história enorme”, acrescentou. Green também destaca que a possibilidade de a cidade mais atingida pelos ataques de fundamentalistas islâmicos em 11 de setembro de 2001 ser governada por um muçulmano é surpreendente.

“Se a maioria da população confia na possibilidade de ter um muçulmano como prefeito, isso é um avanço, muito significativo”.

Apoio voluntário

A ascensão de Mamdani evidenciou o racha entre setores da esquerda e da centro-direita no Partido Democrata. A governadora do estado de Nova York, a centrista Kathy Hochul, apareceu em um comício de Mamdani em 26 de outubro, mas foi silenciada por palavras de ordem pedindo “impostos para os ricos”, constatou um repórter da AFP.

Antes, Hochul tinha criticado Mamdani por suas propostas de um imposto de renda de 2% para os nova-iorquinos que ganham mais que um milhão de dólares (R$ 5,2 milhões).

A ascensão inesperada de Mamdani é impulsionada por jovens nova-iorquinos que fazem campanha para ele. Segundo sua equipe, cerca de 90 mil pessoas se ofereceram como voluntárias.

“Realmente, trata-se de pessoas falando com outros nova-iorquinos sobre a cidade que todos amamos”, disse Mamdani ao The Daily Show. O adolescente Abid Mahdi, originário do Queens, disse à AFP que “quando penso em Zohran, penso no que Bernie Sanders foi para muitos americanos em 2016 e 2020. Ele é meu Bernie Sanders em muitos sentidos”, opinou.

Mamdani apareceu junto ao grande nome da esquerda americana, o senador Bernie Sanders, em um comício no Queens em 26 de outubro.