Genocídio em Gaza chega a 10 meses; Hamas escolhe linha-dura como líder

A escolha do Hamas, considerada uma resposta a Israel pelo assassinato de seu líder, aumenta temores de que o conflito aumente
Sinwar foi o principal responsável pelos ataques de 7 de outubro (Foto: Adel Hana/Instagram)

Brasil de Fato – O massacre palestino na Faixa de Gaza chegou, nesta quarta-feira (07/08), ao décimo mês, em cenário de tensão crescente no Oriente Médio e após o Hamas anunciar seu novo líder. Yahya Sinwar considerado linha-dura, substitui Ismail Haniyeh, tido como moderado, que foi assassinado em 31 de julho em Teerã.

Sinwar foi o principal responsável pelos ataques de 7 de outubro – os maiores já sofridos na história de Israel, com mais de 1,2 mil israelenses mortos e que desencadearam o atual genocídio. Aos 61 anos, ele passou 23 deles em prisões de Israel e cuidava até hoje da segurança do Hamas. Israel o considera um “homem morto”.

A escolha do Hamas, considerada uma resposta a Israel pelo assassinato de seu líder, aumenta temores de que o conflito aumente. Além de Haniyeh, um dia antes bombardeioo israelense havia matado Fuad Shukr, comandante militar do Hezbollah perto de Beirute.

O chefe do grupo libanês Hezbollah, Hasan Nasrallah, disse na terça-feira que tanto o grupo como o Irã seriam “obrigados a adotar represálias”. O Hezbollah atuará sozinho ou no âmbito de uma “resposta coordenada” do Irã e seus aliados na região, “sem importar as consequências”, afirmou Nasrallah.

Nesta quarta-feira (7), a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) se reunirá na Arábia Saudita, a pedido da “Palestina e do Irã”, para alcançar “uma posição islâmica unificada” na região, segundo uma fonte da OCI. As movimentações diplomáticas, incluindo esforços dos EUA e União Europeia, para evitar que Israel entre em guerra aberta com outros países no Oriente Médio.

Israel está em alerta há quase uma semana, aguardando a resposta prometida do Irã e de seus aliados. No entanto, segundo um diplomata europeu em Tel Aviv ouvido pela AFP, a falta de alterações nas instruções dadas pelo Exército aos civis significa, em teoria, que não se espera um ataque iminente.

Contexto

O atual genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza começou há exatos 10 meses, em 7 de outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas “sufocantes” pela ONU antes disso.

O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.

Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.

O número de vítimas fatais chega a quase 40 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.

No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.

A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos. A Corte Internacional de Justiça ordenou a interrupção imediata dos bombardeios em Rafah, para evitar a morte de civis, decisão ignorada por Israel.