Israel sai de cidades do Líbano, mas mantém cinco pontos de ocupação; Libaneses prometem resistência

Cidadãos libaneses retornam para suas cidades na fronteira com o apoio do exército do país (Foto: Divulgação)

Milhares de libaneses que estavam deslocados por causa da guerra retornaram, na manhã desta terça-feira (18/02), para suas terras após as tropas invasoras de Israel se retirarem das cidades na fronteira do Líbano com a Palestina ocupada. A retirada coincide com o fim do período estendido para a implementação do cessar-fogo – o prazo inicial era o último dia 26 de janeiro -, que encerrou quase 14 meses de conflitos pesados entre os agressores israelenses e os combatentes da resistência libanesa.

Mantendo o seu histórico de violações de acordos, Israel afirmou, porém, que não vai se retirar de cinco pontos estratégicos dentro do território do Líbano – todos na fronteira -, numa atitude repudiada pelo governo libanês e pelo Hezbollah, grupo que faz a resistência armada contra os invasores israelenses. Os locais em terras libanesas que ficarão sob ocupação militar israelenses são:

  • Colina Al-Awida, que fica entre as cidades de Adeissah e Kfar Kila;
  • Jabal Blat, entre Ramiya e Maruhin;
  • Colina Al-Labouna, entre a cidade de Alma Chaab e Naqoura;
  • Colina Al-Aziya, em Deir Sirian;
  • Colina Al-Hamamis, nos arredores da cidade de Al-Khiam.

“A partir desta terça-feira, o exército permanecerá na zona de amortecimento no Líbano controlando cinco postos avançados e continuarão fazendo cumprir, com força e sem concessões, quaisquer violações (do acordo) por parte do Hezbollah”, disse o ministro da Defesa israelense, Israel Katz em um comunicado emitido nesta terça-feira (18/02).

Líbano promete resistência

Por sua vez, o novo governo libanês, em comunicado emitido na segunda-feira (17/02), reiterou seu compromisso em cumprir integralmente a resolução 1701, que encerrou a guerra libanesa-israelense de 2006 e na qual se baseia o novo cessar-fogo. Nesta terça-feira (18/02), um porta-voz da Presidência libanesa afirmou que “o Líbano considerará qualquer presença israelense remanescente em suas terras como uma ocupação e tem o direito de usar qualquer meio para garantir a retirada israelense”.

Já o Hezbollah e outros partidos libaneses consideram a permanência de militares israelenses em cinco pontos estratégicos do Líbano como uma “ocupação inaceitável”. “A Resistência vai estudar a melhor forma de encerrar a ocupação israelense do território libanês”, disse o Hezbollah, que está envolvido, neste momento, nos preparativos para o enterro oficial do ex-secretário-geral do partido, Sayed Hassan Nasrallah, assassinado por Israel em 27 de setembro de 2024.

Agressões israelenses antes da retirada

A retirada das tropas israelenses das cidades libanesas foi confirmada por uma fonte de segurança do Líbano citada pela Agence France-Presse (AFP). “O exército israelense se retirou de todas as aldeias fronteiriças, exceto dos cinco pontos, e o exército libanês está se mobilizando gradualmente, devido à presença de explosivos em alguns lugares e danos nas estradas”, disse.

Apesar do fim do prazo para o cumprimento do cessar-fogo, Israel realizou várias agressões contra o Líbano nesta terça-feira (18/02). A principal delas foi registrada em Kfar Shouba, no sul do país, quando tanques e veículos de ocupação israelenses entraram na cidade com materiais explosivos e realizaram grandes explosões que destruíram várias casas na região.

Tropas invasoras israelenses realizaram explosões em Kfar Shouba no sul do Líbano (Vídeo: Divulgação)

Apoio do exército libanês

O retorno dos refugiados libaneses foi feito com o apoio do exército libanês, que removeu barreiras de terras levantadas pelos invasores israelenses na entrada de várias cidades da fronteira do sul do Líbano. Além disso, os militares libaneses, também, vasculharam as localidades em busca de explosivos que possam ter sido deixados pelos terroristas israelenses.

O Comando do Exército Libanês emitiu declaração explicando que suas forças foram mobilizadas em cidades como Al-Abbasiyah, Al-Majidiyah e Kfar Kila, no setor oriental do sul do país, além de Adaisseh, Markaba, Houla, Mays al-Jabal, Blida, Muhaibib, Maroun al-Ras e Yaroun, todas no setor central.

Os militares, também, foram mobilizados em outros locais de fronteira ao sul do rio Litani após a retirada da ocupação israelense. O exército disse que as unidades especializadas começaram a realizar pesquisas de engenharia, abrir estradas e lidar com munições não detonadas e objetos suspeitos nessas áreas.

Organizações da ONU condenam Israel

Cidades libanesas, como Kfar Kila, foram completamente destruídas pelos terroristas israelenses (Foto: Divulgação)

Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 27 de novembro de 2024, Israel aproveitou a situação para promover diversas agressões em massas contra o Líbano, com a realização de ataques aéreos e bombardeios de casas em vilas fronteiriças, matando mais de 60 pessoas, 24 delas somente no dia 26 de janeiro – primeira data definida para a implementação do cessar-fogo. Elas foram assassinadas enquanto tentavam retornar às suas cidades e casas na fronteira do Líbano.

Na semana passada, especialistas da ONU expressaram sua consternação em uma declaração sobre a contínua “matança de civis e a destruição sistemática de casas, terras agrícolas e outras infraestruturas vitais no sul do Líbano durante o período de cessar-fogo”.

A Human Rights Watch alertou, na segunda-feira (17/02), que “a demolição deliberada de casas e infraestrutura civil por parte de Israel e o uso de armas explosivas em áreas povoadas tornam impossível que muitos moradores retornem às suas aldeias e casas”. “Mesmo que suas casas ainda estejam lá, como eles retornarão sem água, eletricidade, comunicações e infraestrutura de saúde?”, acrescentou a entidade.

Casas destruídas e deslocados

Estima-se que os terrorismo de Israel tenha destruída mais de 200 mil casas em todo o território libanês durante a guerra, principalmente, a partir do dia 23 de setembro de 2024, quando Israel lançou uma agressão em larga escala contra alvos civis libaneses sob o pretexto de atacar o Hezbollah.

A reconstrução do país deverá custar mais de US$ 20 bilhões, segundo estimativas iniciais das autoridades libanesas. Esse valor, portanto, pode aumentar. Quase 100 mil libaneses, entre mais de 1 milhão de deslocados pela guerra, permanecem no exílio, segundo dados da ONU. 

Balanço provisório de baixas da guerra

Estima-se que mais de 4 mil pessoas foram mortas no Líbano desde o início das hostilidades em outubro de 2023, segundo dados do Ministério da Saúde do país. Em Israel, o balanço é de 134 mortos – entre militares e civis -, incluindo outros 56 soldados que morreram no sul do Líbano durante a invasão terrestre, segundo uma contagem da Agence France-Presse (AFP) baseada em dados oficiais. Por conta da censura, as autoridades israelenses não divulgam o número real de baixas de Israel.