Refinaria do grupo Atem, em Manaus, vende gás de cozinha 72% mais caro do que a Petrobras

Índice alto consta de estudo do Observatório Social do Petróleo (OSP). Para economista, preço praticado pela Ream, que foi privatizada pelo governo Bolsonaro, é o mais 'trágico' para a população local
Refinaria de Manaus foi privatizada no governo Bolsonaro, trazendo prejuízos ao bolso do consumidor amazonense (Foto: Divulgação/Arquivo Petrobras)

A privatização da Refinaria da Amazônia (Ream), no último mês do governo Jair Bolsonaro, em dezembro do ano passado, tem custado caro para o consumidor amazonense. De acordo com levantamento feito pelo Observatório Social do Petróleo (OSP), o preço do gás de cozinha vendido pela Ream, que tem sede em Manaus e é controlada pelo grupo Atem, custa 72% acima do cobrado pela Petrobras, índice que é o mais alto do Brasil.

Segundo o estudo do OSP, a Ream comercializa o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) de 13 quilos a R$ 54,41, enquanto nas unidades estatais o gás de cozinha sai por R$ 31,66. “A diferença de R$ 22,75 em relação ao preço praticado pela Petrobras é a maior desde que a Ream foi privatizada, em dezembro do ano passado”, informou o OSP.

Segundo o observatório, no dia 19 de outubro, a refinaria amazonense aumentou em 19% o preço do gás de cozinha, ampliando a margem. Os dados mostram ainda que a Ream foi responsável por 24% da oferta de GLP no Norte do País em 2023, e a Petrobras, por 75,8%.

“Trágica”

Em entrevista para um site de notícias, o economista Eric Gil Dantas, do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), afirmou que, entre todas as refinarias da Petrobras que foram privatizadas, a venda da Ream foi a mais trágica para a população local. Segundo ele, todos os produtos hoje vendidos por ela são mais caros do que os da concorrência e até do Preço de Paridade de Importação, o PPI.

“Isso contrasta com o período anterior à privatização, quando os preços dessa refinaria eram inferiores aos das outras unidades da Petrobras. Atualmente, vemos uma diferença exagerada no preço do GLP. Como o botijão pode ser 72% mais caro? É difícil encontrar uma justificativa”, questiona Dantas.

Monopólio

Já o diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e do Sindipetro PA/AM/MA/AP, Bruno Terribas, a criação de um monopólio regional privado seria uma das justificativas apontadas para os preços mais altos. “O monopólio regional eleva o preço e tem consequências desastrosas para o consumidor local”, destacou.

Em 2016, segundo ele, a Atem, que controla a Ream, detinha pouco mais de 20% do mercado de combustíveis, porcentagem que saltou para mais de 50% em apenas dois anos. “Comandada por uma família do interior do Amazonas, a pequena distribuidora passou a ser a quinta maior empresa do País”, informou o economista.

O portal Panorama Real procurou o grupo Atem, por meio da assessoria de imprensa, porém, a empresa não se manifestou sobre o assunto até o fechamento desta edição.