Vice de Alberto Neto, Maria do Carmo é denunciada por suposto esquema de caixa 2 na eleição

Maria do Carmo e Alberto Neto se mantiveram calados sobre a denúncia (Foto: Divulgação/PL)

A campanha de Alberto Neto (PL) e Maria do Carmo Seffair (Novo) está na mira da Justiça Eleitoral e da Polícia Federal (PF) por denúncia de um suposto esquema de caixa 2 e abuso de poder econômico. Documentos, prints de conversas no WhatsApp, comprovantes de pagamentos e áudios gravados às escondidas mostram que a gestora do Grupo Fametro fez diversas operações financeiras por meio das contas pessoais e de empresas administradas por ela, sem declarar oficialmente ao Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM).

Os pagamentos foram feitos ao professor Ronaldo Fernandes, que foi convidado por Maria do Carmo para assumir a coordenação geral de campanha. A princípio, a empreitada foi orçada em R$ 1,4 milhão. Foi ele quem esteve na sede da PF, no Dom Pedro, na segunda-feira (21/10) para denunciar o caso.

Segundo ele, Maria do Carmos fez diversos pagamentos ao longo da campanha, que somam mais de R$ 240 mil entre abril e outubro, mas deixou de pagar R$ 250 mil. O restante dos recursos seria usado para remunerar os cabos eleitorais que trabalharam para ela e Alberto Neto no primeiro turno.

Pagamentos com recursos de caixa 2

Os pagamentos começaram a ser feitos pela gestora da Fametro em abril. Ronaldo coordenava 24 equipes de cabos eleitorais, totalizando 220 pessoas.

Maria do Carmo fez inúmeras transferências da conta pessoal, que totalizam R$ 185 mil de maio a outubro deste ano. Houve ainda transferência de R$ 5 mil da empresa KFL Consultoria e R$ 57 mil do Centro de Estudos Jurídicos do Amazonas, sendo uma de R$ 35 mil em julho e outra de R$ 22 mil no dia do primeiro turno das eleições municipais.

A conta do Centro de Estudos Jurídicos do Amazonas tem como nome fantasia a Faculdade Santa Tereza, um dos empreendimentos administrados por Maria do Carmo Seffair. Além de mostrar o comprovante do PIX feito no dia do primeiro turno, Ronaldo ainda vazou a conversa que teve com ela no WhatsApp.

“Ronaldo, estou tentando arrumar 50.000. Mas não tenho esse valor. Posso fazer Pix”, escreve a candidata a vice um dia antes da votação de primeiro turno. “Vou mandar levar 20.000. Meu limite de Pix é de 2.000 à noite. Amanhã eu passo cedo mais 20.000”, escreve ela ao apoiador um dia antes do pleito.

No dia seguinte, às 8h23, dia da eleição, a candidata usa seu poder como reitora e envia a quantia de R$ 22 mil para a conta pessoal de Fernandes. Além desta conta pessoal, o coordenador usava uma outra conta na qual intitulou “O assessor”. O nome inusitado foi questionado por Maria em uma das conversas.

Calote em apoiadores

A denúncia veio à tona após alguns grupos de apoiadores não receberem pelo trabalho realizado durante a campanha e cobrarem Ronaldo – sem respostas de Maria do Carmo, ele decidiu trazer o caso à tona.

A presidente municipal do Partido Novo, Kellen Veras Lopes, que foi secretária de Comunicação na gestão do ex-prefeito Arthur Neto, é quem teria explicado o pagamento feito ao coordenador com recursos não declarados à Justiça Eleitoral. “A doutora (Maria do Carmo) investiu mais de R$ 500 mil no Ronaldo… A gente passou dinheiro pra ele. R$ 200 mil. Se ele não pagou vocês…”, buscava ela justificar ao grupo, que foi questionar sobre a falta de pagamentos.

“Na semana passada a gente deu dinheiro pro Ronaldo e sexta-feira foi passado o valor que estava faltando pra ele. Ele recebeu R$ 44 mil. Ele recebeu na semana passada. Antes da eleição” explicou Kellen Veras completando: “Ele não tem como dizer que não recebeu porque dois pagamentos foram feitos pra ele. E um eu entreguei pra ele. Eu quero ver se ele é homem de dizer que eu não entreguei. Eu entreguei R$ 100 mil reais na mão dele”.

Nova reunião

Em uma nova reunião, que teria ocorrido no comitê central de Alberto Neto, logo após o primeiro turno, a própria Maria do Carmo recebe o grupo insatisfeito e afirma que deu várias quantias para que Ronaldo efetuasse os pagamentos.

“Eu já dei pra ele mais de quinhentos, hoje, cento e quarenta que tô botando na mesa com mais quarenta que eu dei no dia da eleição, são mais duzentos, tu sabe que isso é quase um milhão de reais, pra uma pessoa. Tu sabe quanto a gente fez isso aqui, quantos líderes a gente pagou aqui, quantos?” questiona Maria do Carmo a sua assessora Kellen Veras, que responde “Mil, mil, mil e poucas lideranças”, diz Maria durante a reunião que foi gravada pelo grupo.

O próprio Ronaldo enviou à imprensa o documento que confirma a denúncia que fez na PF.

VEJA FOTOS DO DEPOIMENTO:

Sem resposta

Apesar da denúncia grave, tanto Maria do Carmo quanto Alberto Neto não comentaram a denúncia. Nada foi mencionado até a publicação dessa matéria nas redes sociais deles. A reportagem pediu um posicionamento por meio das assessorias, mas os pedidos foram ignorados. Tentamos falar com Kellen Veras Lopes, mas também nada foi respondido.

O professor Ronaldo informou, por meio da assessoria, que vai realizar uma coletiva de imprensa nesta semana para trazer maisdetalhes sobre o caso.

VEJA O DOCUMENTO COM COMPROVANTES DE PAGAMENTOS E CONVERSAS ENTRE MARIA E RONALDO: