Amom Mandel afirma que corre risco de vida por ter denunciado ligação da alta cúpula da SSP-AM com facções criminosas do Estado

O parlamentar divulgou o depoimento que fez à Polícia Federal, no qual diz ter áudios que comprometem o atual secretário da SSP-AM, coronel Marcos Vinicius de Almeida, e, também, o presidente da Aleam, Roberto Cidade

Após se envolver em confusão e ser acusado por policiais de dar “carteirada” para supostamente fugir de uma blitz policial em Manaus, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania) reagiu as acusações e divulgou um vídeo, neste sábado (06/01), para revelar que está sendo “coagido” por ter denunciado à Polícia Federal (PF) a existência de ligações da alta cúpula da Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) com facções criminosas – incluindo o tráfico de drogas -, que dominam o Estado.

Na mesma denúncia, o parlamentar fez, também, acusações contra o atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Aleam), deputado Roberto Cidade (União Brasil), que é aliado do governador Wilson Lima, alegando que o mesmo o teria pressionado a desistir de fazer as denúncias na PF.

Além de citar nomes, Amom divulgou o depoimento que fez à PF, no qual afirma ter áudios que comprometem Roberto Cidade e o titular da SSP-AM, coronel Marcus Vinícius de Almeida. Ele também revelou que sofre ameaças sobre situações particulares da sua família e diz temer pela própria vida.

Segundo Amom, as ameaças teriam começado após ele ter acesso a uma investigação da Secretaria Adjunta de Inteligência do Governo do Amazonas (SEAI), associando diretamente representantes da SSP-AM, da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e do Comando da Polícia Militar com facções criminosas do Estado.

Esquema com traficantes

Amom Mandel informou que o relatório feito pela SEAI confirma a relação próxima da alta cúpula da segurança com traficantes. Inclusive, cita a nomeação do irmão de um dos maiores narcotraficantes do Estado dentro da própria SSP-AM.

Amom se refere a Lanalbert Nunes Obando, irmão de Sérgio Roberto Obando, apontado pela polícia como um traficante internacional, que já foi preso, em 2011, com 1,5 toneladas de cocaína, e em 2017, quando ele foi novamente detido, desta vez, com 400 quilos de entorpecentes.

Amom teve acesso ao relatório após a presença de Lanalbert dentro da SSP-AM vir à tona e ele ser exonerado no início de dezembro do ano passado. Ele ocupava o cargo de gerente de Inteligência.

“Assim que tive acesso ao relatório sobre essa relação muito próxima da alta cúpula da SSP com organizações criminosas e o tráfico de drogas, informei à Polícia Federal. Isso aconteceu no dia 13 de dezembro, um dia após o caso do irmão do narcotraficante, que ocupava um cargo de confiança na SEAI, ser revelado. Após isso, comecei a receber ameaças com informações de foro íntimo envolvendo um caso extraconjugal do meu padrasto e ofensas diretas a minha mãe”, relatou o parlamentar no depoimento.

Segundo Amom, após ir à PF, ele passou a ser intimidado e ser perseguido, inclusive, por veículos de comunicação patrocinados pelos cofres públicos. “O relatório cita o nome de pessoas importantes e poderosas do nosso Estado. Por esse motivo, a possibilidade do sigilo dele ter sido quebrado pode colocar a minha vida e a das pessoas que trabalham conosco em perigo”, afirmou o deputado.

VEJA O VÍDEO FEITO PELO DEPUTADO:
Abordagem policial e intimidação

Sobre a abordagem policial, o deputado federal disse que foi parado pela Rocam na Zona Leste de Manaus e ter sido questionado por que a laterna traseira do carro que dirigia estava queimada. Ele relatou que os PMs foram truculentos e fizeram um ligação diretamente para representantes do Comando da Polícia Militar, fato que não é comum em abordagens de rotina.

Um subcomandante do Comando de Policiamento Especializado (CPE) esteve no local e não aceitou os pedidos de prisão por abuso de autoridade que Amom deu aos policiais. Em seguida, o próprio deputado acionou o secretário da SSP-AM, coronel Marcus Vinícius Almeida, que foi pessoalmente no local do fato e teria tentado convencê-lo a não registrar o caso na delegacia.

Amom destacou em depoimento que após não ceder ao pedido, Almeida concordou que todos fossem até o 14º Distrito Integrado de Polícia (DIP).

Intimidação para mudar versão

Ainda segundo o documento divulgado por Amom, na sexta-feira (05/01), quando a abordagem policial ganhou repercussão na mídia, ele recebeu ligações do secretário de Segurança e, também, do presidente da Aleam, deputado Roberto Cidade, que é líder do Governo do Amazonas na Casa Legislativa, e deve ser apadrinhado por Wilson Lima na eleição deste ano para a Prefeitura de Manaus.

O objetivo dos dois era fazer com que Amom retirasse a denúncia na Políca Federal e abafasse o caso. Alem disso, os dois teriam proposto que eles montassem “uma narrativa boa” para divulgar à imprensa com a finalidade de encerrar o assunto.

Amom diz que não cedeu aos pedidos e gravou as ligações com os dois citados por ele na denúncia. Ele pode divulgar os arquivos a qualquer momento.

O Panorama Real pediu um posicionamento do Governo do Amazonas e também procurou o deputado Roberto Cidade sobre a denúncias feitas por Amom Mandel, mas ninguém respondeu aos questionamentos até a publicação dessa reportagem. A reportagem não obteve sucesso, também, em obter respostas da SSP-AM.

Medo de morrer

Amom Mandel fez um pedido de proteção à Polícia Federal, a Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados e ao Ministério da Justiça, para assegurar a sua segurança e a de seus familiares.

“Se algo acontecer comigo, com meus familiares ou entes queridos, a Polícia Federal sabe quem são os culpados e mandantes”, ressaltou o parlamentar.

VEJA O REGISTRO FEITO POR AMOM MANDEL NA POLÍCIA FEDERAL SOBRE O CASO: