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Na sexta-feira (23/08), às 18h30, o Centro de Artes Visuais Galeria do Largo renova “Espaço Mediações 8ª edição”, com conceitos de ocupação, ateliê e laboratório. As novas exposições fazem parte da mostra “Amazonas Artes Visuais 2024 – Diversas Naturezas” e reúne quatro exposições individuais, incluindo uma mostra de lambes, evidenciando todas as possibilidades de pensamento e materialização em arte.
Neste conjunto de propostas, a artista Maria do Rio Negro apresenta “Documentos e Identidades”; Suelen Siqueira exibe “Potências do Corpo Feminino”, com fotografias de shibari art; Marcelo Rufi mostra “Pintacuia Hiperbólico” e Victor Zagury apresenta a curadoria de lambes “Cola com Noix”. As exposições ficam abertas ao público, de quarta a domingo, de 15h às 20h, na Galeria do Largo, no Centro de Manaus.
O Espaço Mediações, que integra a mostra “Amazonas Artes Visuais 2024 – Diversas Naturezas”, possui curadoria de Cristóvão Coutinho e está na sua oitava edição. Criado em 2019, ao longo de sua trajetória, o Espaço Mediações contou com a participação de mais de 40 artistas, incluindo exposições individuais e coletivas. Coutinho, curador e gestor do Espaço Cultural Galeria do Largo, fala sobre o objetivo dessa iniciativa artística.
“Ela tem como objetivo a inserção de jovens artistas, e apresentar propostas diversas, como vocês verão nestas exposições. A intenção é envolver arte urbana, arte que vem da periferia, pessoas que às vezes não estão no centro das ações artísticas e são convidadas”, explica. “Com a mostra, buscamos integrar essas expressões e criar um conceito que valorize essa diversidade”, explica Coutinho.
A mostra Coletiva de Lambes “Cola com Noix” conta com a participação de mais de 30 artistas, tendo o artista Victor Zagury como curador, reunindo na parede/mural impressões de histórias ancestrais e o espírito da arte urbana, no suporte que discorre narrativas amazônicas.
Victor Zagury, conhecido por “Zag”, é ativista urbano, produtor criativo e facilitador de ações, é também um dos principais articuladores do projeto Coletivo Artivismo. Nascido na cidade de Manaus, e criado entre Amazonas e Pará, “Zag” carrega em sua trajetória a diversidade cultural da Amazônia no estilo street art, que se reflete em sua linguagem artística multifacetada.
“‘Cola com Noix’ destaca a identidade visual única de cada artista, refletindo a riqueza cultural e a complexidade da Amazônia. A exposição busca não apenas apresentar a arte lambe-lambe como forma de expressão, mas também como um poderoso instrumento de artivismo, onde o estético se encontra com o político”, declara “Zag”.
Os visitantes poderão explorar obras que dialogam com o contexto urbano da Região Norte, abraçando o espírito indomável da arte urbana lambe-lambe, oferecendo uma perspectiva crítica e engajada sobre a realidade local. A mostra convida o público a refletir sobre a força transformadora da arte na construção de novas narrativas sociais.
A cuia, fruto da natureza amazônica, nas mãos canhotas do artista contemporâneo de Monte Alegre (PA) Marcelo Rufi transforma-se em tela viva, em portais para a alma e reflexo de uma história de “puro amor e vandalismo”, na qual o artista procura “desver” o belo e o academicismo em uma busca desinibida pela experimentação artística para além do resultado, no qual o processo é o centro e motor da criação.
“A arte de pintar cuias, prática ancestral que se entrelaça com a identidade do povo montealegrense, é mais do que uma técnica, é uma expressão profunda da alma, um diálogo entre a natureza e o homem, ‘ser Pintacuia é ser pé no chão’, e mesmo distante, não deixar de lado suas origens, é um ato resistência”, declara o artista Marcelo Rufi.
Marcelo Rufi é um produtor cultural, curador e artista contemporâneo de 38 anos. Se autodefinindo como gay, preto de periferia, ele vem atuando nas ruas da cidade sendo transgressor e experimentando múltiplas linguagens. Por meio de instalações artísticas interativas, esculturas, pinturas e desenhos nas cuias e, para além delas, o artista propõe contar sua história de 38 anos de vida, dos 18 se passaram em Manaus, para onde veio de mala e cuia em fevereiro de 2006.
Sem ser narcísica ou ensimesmada, a exposição busca desnudar o artista em vários aspectos, seus sentimentos mais profundos e sem medo de revelá-los, livre das aprovações, rotulações, rejeições e julgamentos inevitáveis. “Pintacuia Hiperbólico”, sem perder a ironia e o bom humor é uma declaração de amor a Monte Alegre e à maior paixão do artista: a arte.
A Exposição Fotográfica “Potências do Corpo Feminino” propõe uma imersão na estética do Shibari Art, uma técnica de imobilização, amarração corporal e comunicação com as cordas, que teve sua origem no Japão. Ele é inspirado no Hojojutsu, uma técnica sistematizada que era usada por samurais para restringir criminosos, usando as cordas.
A exposição é um desdobramento do estudo idealizado por Suelen Siqueira, Licenciada em Dança pela Universidade do Estado do Amazonas UEA, artista, premiada em editais de fomento à cultura, atuante em diversos projetos sociais, ativista em prol das pessoas com deficiência e visibilidade do Empoderamento Feminino.
“Potências do Corpo Feminino” busca tornar possível a conexão da mulher com seu próprio poder, dialogando com a aceitação do corpo, cicatrizes, formas e sentimentos vividos, superados ou não. “As cordas amarram, prendem, apertam, ferem, resgatam e puxam para cima, te fazem enxergar dentro de si e para o alto. O quanto você resistiu, quando você se olha e vê a aceitação de pertencer-se”, destaca a artista e curadora, Suelen.
O ensaio fotográfico realizado por Tayna Sateré, fotógrafa e artesã indígena da Amazônia, reflete com sutileza o olhar de suas curvas, a beleza, as potências que marcam histórias com o poder de exaltar e criar a empatia com o corpo que se vê e se projeta para o alto quando suporta o peso, supera as inseguranças e transcende para o desdobramento dos desejos.
Nesta exposição, a artista Maria do Rio Negro apresenta uma série de documentos e registros reimaginados e artisticamente manipulados para questionar e investigar o papel dos documentos de identidade e registros na formação das identidades pessoais, profissionais e coletivas.
Por meio de uma instalação de arte, as participantes são convidados a refletir sobre como documentos como RG, Título de Eleitor, certidões de nascimento, casamento e outros registros não apenas garantem direitos civis, mas também recontam a história do Brasil, evidenciando como documentos são instrumentos de controle e emancipação, que impõem limites e categorias sociais.
Maria do Rio Negro é manauara, ativista dos direitos humanos e da natureza, professora e pesquisadora em Pós-Identidade, Pedagogias Queer e Estudos Culturais pela Universidade Federal do Amazonas (ufam). “Documentos e Identidades busca desafiar as percepções convencionais sobre identidade e cidadania, nos convidando a refletir sobre como esses registros moldam nossas vidas e nos posicionam dentro das estruturas sociais”, conceitua Maria.
A artista apresenta, em uma “série de documentos e registros reimaginados e artisticamente manipulados”, evidências no Estado e na sociedade, de normas, regras e direitos adquiridos e conquistados em princípios de posicionamento das condutas do viver da pessoa. Além disso, documentos pessoais da família e da artista são apresentados, ilustrando conexões pessoais e históricas com a prática de documentação.
A “Mostra Amazonas Artes Visuais 2024 – Diversas Naturezas” fica em cartaz até outubro, incluindo exposições e performances que ainda serão anunciadas, encerrando com um seminário no Palacete Provincial. Toda essa atividade conta com a participação de curadores, críticos, professores, pesquisadores, artistas e o público em geral.
Com informações da assessoria