Moraes retira sigilo de delação em que Cid entrega ações de Bolsonaro

Segundo a acusação, o ex-presidente liderou uma trama golpista gestada em 2022 (Foto: Divulgação)

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou nesta quarta-feira (19/02) o sigilo sobre a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que serviu como base para a investigação que levou à denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro foi denunciado nesta terça (18/02) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes. Outras 33 pessoas também foram denunciadas.

No despacho desta quarta, Moraes também abriu prazo de 15 dias para manifestação das defesas. Pela determinação, a contagem deve correr de forma simultânea para todos os acusados, incluindo Mauro Cid.

Segundo a acusação, o ex-presidente liderou uma trama golpista gestada em 2022, nos últimos meses de seu mandato, com o objetivo de se manter no poder após ser derrotado na corrida presidencial daquele ano.

Uma das principais alegações das defesas dos acusados é de que não tiveram acesso à íntegra da delação de Cid. Ao levantar o sigilo após a denúncia, Moraes afirmou que a medida visa a “garantia do contraditório e da ampla defesa”.

Fraude no cartão de vacina

O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid afirmou que recebeu ordens do ex-presidente para inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde no nome dele (Jair Bolsonaro) e da filha, Laura Firmo Bolsonaro.

Cid ainda confirmou que os certificados foram impressos e entregues em mãos ao ex-presidente da República.

Bolsonaro “milionário”

Mauro Cid, se queixou, em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), de o aliado ter “se dado bem, ficado milionário”, enquanto ele próprio “perdia tudo” e sua carreira estava “desabando”.

Ao ser questionado sobre a afirmação, exposta na reportagem da revista Veja, de que Moraes tinha uma “sentença pronta”, Cid respondeu se tratar de um desabafo e que acabou “falando besteira”. Questionado sobre quem se referia ao dizer que “todos se deram bem, ficaram milionários”, o tenente-coronel declarou que “estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix”, enquanto ele mesmo tinha “perdido tudo”.

“Estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aos generais que estão envolvidos na investigação e estão na reserva. E no caso próprio perdeu tudo. A carreira está desabando. Os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar. Não é político, não é militar, quer ter a vida de volta. Está enclausurado. A imprensa sempre fica indo atrás. Está agoniado. Engordou mais de 10 quilos. O áudio é um desabafo. Acredita que as pessoas deviam o estar apoiando e dando sustentação”, diz um trecho da transcrição do depoimento.

Monitoramento de Moraes

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em delação premiada, que foi o ex-presidente quem pediu a militares que monitorassem o ministro Alexandre de Moraes, do STF, em dezembro de 2022.

Bolsonaro queria monitorar encontro do general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) com ministro do STF, segundo Cid. A delação aponta que Bolsonaro tinha a informação de que Mourão, à época vice-presidente e hoje senador, iria se reunir com Moraes em São Paulo, e queria verificar se aquela informação era verdadeira.

Bolsonaro queria monitorar encontro do general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) com ministro do STF, segundo Cid. A delação aponta que Bolsonaro tinha a informação de que Mourão, à época vice-presidente e hoje senador, iria se reunir com Moraes em São Paulo, e queria verificar se aquela informação era verdadeira.